Pastores se Reúnem com Jesus para Prestar Relatório

Pastores se Reúnem com Jesus para Prestar Relatório

Pastores se reúnem com Jesus para prestar relatório

mar 7, 2011

Pastores se reúnem com Jesus para prestar relatório

Um grupo de pastores, não satisfeito apenas em apresentar relatórios em seus concílios denominacionais, procura Jesus para prestar a ele uma lista de atividades desenvolvidas em seus pastorados. Notava-se, pelo entusiasmo e risos dos mesmos, que tinham certeza absoluta de que receberiam por parte do Mestre dos mestres e do Pastor dos pastores as mais altas honrarias e elogios. Anteviam inclusive a possibilidade de tripudiar sobre seus colegas, não tão bem sucedidos, mostrando a eles uma carta de recomendação de Jesus.
Com isso em mente, elaboram seus relatórios em três categorias: profecia, exorcismo e sinais e maravilhas.
Essas categorias valem a pena mencionar, estavam no topo da lista das mais procuradas por todos os pastores. Havia muita disputa e muita propaganda sobre essas atividades. A realização das mesmas produzia frutos e gerava não somente receitas, mas também um grande afluxo de pessoas aos templos. Alguns pastores, mais humildes, não gostavam de falar sobre isso. Outros procuravam esses sinais, mas não conseguiam realizá-los. Alguns até mesmo oravam suplicando essas graças, mas não as recebiam. Certo mesmo é que esses pastores haviam conseguido essas proezas e queriam agora relatá-las a Jesus.
Como qualquer relatório digno de nota, começaram dizendo que tudo havia sido feito para Jesus. Foi por causa de Jesus e foi em nome de Jesus. Toda a glória foi dada ao Senhor, e que ninguém duvidasse disso.
As profecias foram muitas. Profetizaram que pessoas seriam curadas, que empresários ficariam ricos, que o evangelho seria pregado em mais de 150 países do mundo através de seus programas televisivos, que quem doasse R$1.000,00 teria essa quantia multiplicada muitas vezes, que nas cidades (aqui mencionaram as grandes cidades do Brasil) não haveria mais pobreza, prostituição e violência. Profetizaram ainda que os senhores Fulano e Beltrano, que eram os maiorais da igreja, seriam eleitos governadores, senadores e deputados. Profetizaram o fim do movimento gay. A lista era enorme. Notou-se que Jesus se cansava e decidiram então pular para o próximo item: exorcismo.
Essa lista era impressionante. Esses exorcismos, para que não pairasse nenhuma dúvida, estavam todos documentados e gravados. Todos foram realizados à vista do público e televisionados para todo o país. Demônios foram humilhados e tratados como seres miseráveis. Fizeram desses demônios o que queriam (tudo em nome de Jesus). Expulsavam, deixavam os demônios esperando, mandavam os mesmos retornarem ao corpo dos endemoninhados para depois exorcizarem os mesmos para sempre. Faziam isso para mostrar grande autoridade sobre os mesmos. Alguns demônios foram escolhidos para serem entrevistados. Eles eram inquiridos a respeito de suas origens, o que faziam e quais os propósitos em atormentar suas vitimas. Os demônios obedeciam a todas as ordens.
Juntando o primeiro relatório com esse segundo, os pastores perceberam que Jesus estava um pouco enfadado. Começaram a pensar se Jesus tinha outras coisas para fazer e por isso apressaram-se a apresentar a terceira parte das atividades. Se as duas primeiras partes impressionavam, Jesus não havia visto nada ainda. Esse último relato era de maravilhar não somente Jesus, mas a todos os anjos do céu.
Mais uma vez, fizeram questão de mencionar que tudo foi feito em nome de Jesus. Destacavam essa motivação porque alguns outros pastores, certamente fracassados e frustrados por não terem tais poderes, os criticavam dizendo que aquilo tudo era um show. Por isso, queriam deixar bem claro que tudo era para Jesus.
E de fato, fizeram muitos sinais e maravilhas. Surdos ouviram, cegos passaram a enxergar, pernas encurtadas foram restauradas, cânceres foram extirpados. Coisas mais simples nem relataram, tais como dores de cabeça, unha encravada, dores na coluna, etc. Percebendo certo sorriso nos lábios de Jesus, passaram a relatar então aquilo que de fato o impressionaria, pois certamente essas coisas já mencionadas Jesus havia curado no seu tempo, mas curar alguém de AIDS, restaurar a heterossexualidade e emagrecer obesos, isso Jesus não tinha feito. Mas a lista não se limitava ao físico apenas. Impressionava mesmo era o número de pessoas que haviam doado suas posses para a igreja e que agora estavam milionárias. Algumas dessas pessoas estavam à beira da falência e quando entregaram suas casas e carros, receberam muitas vezes mais, inclusive carros importados. Havia ainda um item nessa parte do relatório que eles relutaram um pouco, mas vendo que Jesus estava se preparando para dar os vivas e os améns, entusiasmaram e disseram: “Jesus, quando o Senhor andou pela Terra, lembra-se que andava a pé pelas estradas empoeiradas da Palestina? Que não tinha nem uma casinha para passar o final de semana?” Vendo que Jesus balançava a cabeça concordando, arremataram mencionando que eles, em nome de Jesus, não somente viajavam de avião, mas que por causa do caos dos aeroportos brasileiros, compraram seus próprios jatinhos. Para que Jesus não pensasse nada errado, explicaram que eram jatos na bagatela dos seus dez a vinte milhões de reais e que isso comparado com os grandes empresários não era muita coisa. Quanto a morar bem, justificaram que precisavam dar o exemplo de que quem crer também precisa tomar posse, por isso, as mansões eram sinais visíveis das bênçãos divinas.
Nesse momento, o momento da apoteose, Jesus se levanta, dá uma espreguiçada e diz a eles uma breve sentença: “Vão para o inferno”.
Assustados e perplexos, um olha para o outro como que perguntando se haviam entendido bem. Será que ele disse que devemos ir para o inferno? Foi isso que escutamos? A comoção era geral, pois quando o relatório foi dado no concílio houve aplausos, votos de louvor, registro especial em atas. Alguns dos pastores haviam inclusive recebido diplomas e placas. Outros foram até mesmo elevados a bispos e alguns a apóstolos. Como agora essas palavras: “Vão para o inferno”.
Certamente que Jesus devia a eles uma explicação. Algo estava errado. Formou-se entre eles um comitê para levar Jesus a um lugar mais calmo, longe dos outros pastores para dar detalhes e o porquê ele não estava contente com tamanha atividade em seu nome.
Jesus não explica muito. Diz que apenas três coisas. A primeira é que ele não os conhecia. Mesmo tendo muita notoriedade por causa de suas mega igrejas, grandiosos programas no rádio e na televisão, das impressionantes casas e jatos que possuíam, das autoridades que os receberam em seus gabinetes, das parceiras com os poderosos na Terra, mesmo e apesar de todas essas coisas, Jesus afirmou mais uma vez que não sabia nada a respeito deles. Suas atividades não foram registradas nos livros divinos. Tudo o que fizeram passou em brancas nuvens. Nada. Nem uma linha para a posteridade.
Assombrados com essa revelação ouvem de Jesus uma segunda coisa. Que Jesus iria para um lado e que eles iriam outro lado. Ao dizer isso Jesus aponta para um grande clarão ao longe. Chocados, ele percebem que aquele é lado do inferno. Pensam que alguma coisa está mesmo muito errada, pois eles haviam acabado com os demônios daquele lugar, eles haviam saqueado o inferno, haviam amarrado o diabo e seus asseclas. Jesus vendo a perplexidade em seus olhos estica os braços e, aponta para a mesma direção.
Mas eles insistem o porquê de tão inusitado veredito. Pacientemente, antes que prossigam na jornada, Jesus lhes informa a razão: vocês praticaram iniqüidades. Nesse momento eles não se contem. Como assim! Como praticamos iniqüidades se vimos o povo recebendo as profecias, livres dos demônios e felizes dando testemunhos de tantos milagres que realizamos?
Jesus lhes pergunta: “vocês não estudaram grego no seminário?” Grego? O que isso tem a ver com nossas atividades? Jesus então lhe diz que no grego a palavra anomós que foi traduzida por iniqüidade significa sem lei. “Vocês viveram sem lei, isso é: foram injustos em tudo o que fizeram. Não se preocuparam com o Juiz que fez leis e que tinha sua vontade a ser seguida. Viveram por suas próprias leis e vontades”.
O que eles haviam feito foi desviar foi enganar seus seguidores do verdadeiro Jesus e haviam usado o seu nome para confundir essas pessoas, muitas crédulas, e roubar delas o privilégio de ter tido um relacionamento digno com ele. Eles haviam induzido essas pessoas a fazer de Jesus um simples almoxarife celestial. Jesus lhes explica que não foi para isso que ele veio ao mundo. Jesus ainda lhes ensina que eles fizeram da igreja um grande negócio financeiro para proveito próprio. Que não se preocuparam em fazer missão e não pregaram o evangelho da redenção como ele havia pedido em seus mandamentos finais aos seus discípulos. Assim sendo, resume Jesus, vocês não entenderam nada, não me receberam, usaram meu nome falsamente, enganaram as pessoas e viveram como mercenários.
Esse foi apenas um grupo de pastores apresentando relatórios a Jesus. Há muitos outros na fila esperando para comparecer diante dele. Não há como escapar desse encontro.